Mais jogos, menos conteúdo

Por Michele Müller

Se quisermos alcançar melhores resultados acadêmicos devemos investir mais tempo em atividades intelectuais, certo? Essa é a lógica que molda o sistema educacional atual, direcionando à sala de aula parte cada vez maior do tempo que deveria ser dedicado a atividades lúdicas, artísticas e esportivas. Mas forçar o aluno a se concentrar em uma quantidade sufocante de conteúdo acadêmico é uma tática que vêm se mostrando bastante falha – basta observar o salto no número de crianças que acabam buscando ajuda profissional para conseguir prestar atenção.

autor: anônimo

O problema é que esse modelo está desconsiderando o fato de que o intelecto não se desenvolve sozinho: ele se forma juntamente – e de maneira interconectada –, aos aspectos físico, social e emocional. Desenvolver essas outras dimensões do ser humano não apenas garante a formação de indivíduos felizes e saudáveis: é fundamental para o sucesso da própria capacidade intelectual.

Mais que receber informações, crianças precisam aprender a controlar seus impulsos e sua atenção. Precisam dividir e esperar a vez do outro; resolver conflitos sociais; lidar com frustrações e derrotas; sentir-se valorizadas e parte de uma equipe; praticar o equilíbrio, coordenação motora e agilidade física. Não é na carteira escolar que essas habilidades se desenvolvem. É na quadra esportiva, na sala de dança e nas salas de arte.

Muito se fala da importância do esporte e da dança para a saúde e vigor físico e como forma de combate à obesidade. Uma função relevante, mas que não ganha em importância dos tantos outros benefícios que ele traz. A prática esportiva – especialmente das modalidades que exigem mais disciplina e estratégia, como dança, artes maciais e jogos em equipe – trabalha várias habilidades que formam as chamadas funções executivas, essenciais para a formação de um indivíduo bem sucedido em todos os aspectos possíveis. São as últimas habilidades a amadurecer nos jovens e também as primeiras a enfraquecer quando envelhecemos.

Entre as funções executivas fundamentais estão a memória de trabalho, que é a capacidade de manter as informações na mente para poder manipulá-las ou reproduzi-las, e a flexibilidade cognitiva, que envolve a maneira criativa de pensar e de solucionar problemas. Outra função executiva é o controle inibitório, que é a autodisciplina, a capacidade controlar as próprias emoções e ações; de selecionar o foco a atenção, de não ceder a tentações e não agir impulsivamente. Quem convive com crianças hiperativas sabe o quanto essas habilidades são cruciais no seu desempenho social e acadêmico.

Assim, práticas que exercitam a desenvoltura física, que promovem a interatividade e exigem disciplina podem ser mais significativas no desempenho acadêmico que o aumento de atividades voltadas para a aprendizagem de conteúdo.

 

Michele Müller

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