16 março, 2019
O que conectoma humano revela sobre a relação entre inteligência e soft skills
No cérebro, os atributos considerados positivos, como inteligência, autocontrole, flexibilidade e habilidades sociais estão todos correlacionados e podem ser atribuídos à maior interatividade entre as diferentes regiões - o que nos leva a fazer melhores escolhas.
Estudos derivados do projeto conectoma (Human Connectome Project) verificaram a relação do bem-estar com a integração entre partes do cérebro e concluíram que a interconectividade do cérebro é o estado neural que melhor indica saúde mental (Smith, 2015) e atributos como inteligência, memória e flexibilidade.
O projeto surgiu de esforços internacionais com o objetivo de mapear a conectividade do cérebro a partir do escaneamento de networks de 1200 adultos, realizado por meio de diversas técnicas de neuroimagem. Foram mapeadas conectividades em 268 regiões do cérebro, acompanhadas de informações relacionadas a 280 tópicos – como hábitos e comportamentos – de cada um dos participantes.
A análise desses dados revelou um padrão comum entre pessoas com variáveis mais positivas – como nível de educação, flexibilidade, resistência física e bom desempenho em testes de memória e QI: seus cérebros apresentavam maior conectividade que o de pessoas com hábitos pouco saudáveis e comportamentos mais negativos, como maior nível de agressividade.
Outro estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Yale (Finn, Emily et al.) concluiu que quanto mais as áreas diferentes do cérebro interagem entre si, mais rapidamente a informação é processada, permitindo melhores predições e avaliações mais precisas de situações. Isso significa que, em um cérebro mais interconectado, a informação aprendida flui por diversas áreas, levando a melhores escolhas em todos os aspectos da vida – da resolução de problemas complexos às decisões cotidianas.
A inteligência fluida, segundo os pesquisadores, está especialmente relacionada à conectividade entre os lobos frontal e parietal – regiões mais recentes na escala evolutiva, que apresentam maior variabilidade entre as pessoas e networks mais flexíveis, ajustáveis às tarefas. Quanto mais fortemente conectadas essas áreas, maior a probabilidade de desempenho superior em testes de raciocínio abstrato.
Além de confirmar a hipótese da biologia interpessoal – de que a integração entre as partes do cérebro está associada a melhores relacionamentos, decisões mais inteligentes e bem-estar físico e mental – o projeto conectoma revelou outra descoberta importante: os fatores cognitivos e comportamentais estão correlacionados por meio de um padrão característico de interconectividade. Assim, a maior integração pode ser tanto causa quanto consequência desses fatores.
Esses estudos também mostram que a inteligência geral não pode ser atribuída a uma região específica do cérebro, mas à interação entre diferentes regiões. Além disso, o mapa neural sugere que não há separação clara entre habilidades cognitivas e as chamadas soft skills, que, embora sejam mais difíceis de avaliar em testes padrão, estão profundamente ligadas à qualidade de vida e realização pessoal e profissional.
Embora existam diferenças individuais – como no caso de pessoas com habilidades extremas em determinadas áreas e dificuldades em outras, algo comum no espectro autista – de forma geral, todos os tipos de inteligência se desenvolvem a partir de erros de previsão que, com atenção e memória, levam à aprendizagem e, consequentemente, a escolhas mais assertivas no futuro.
Referências
- Smith, Stephen. Et al., A positive-negative mode of population covariation links brain connectivity, demographics and behavior. Nature Neuroscience, n 18, 2015.
- Finn, Emily et al., Functional connectome fingerprinting: identifying individuals using patterns of brain connectivity. Nature Neuroscience, volume 18, pg 1664–1671, 2015.
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