Como podemos ajudar crianças pequenas a formar cérebros saudáveis

Por Michele Müller

Como melhorar a qualidade das interações com crianças pequenas e ajudá-las a sustentar a atenção e explorar o mundo com curiosidade

Paul Helleu: peintre et graveur

No contato inicial da criança com o mundo, quando absolutamente tudo é novo, ela absorve uma quantidade enorme de informação que chega totalmente organizada. Aos poucos, desenvolve a capacidade de perceber os estímulos de forma mais seletiva. Aprende a ignorar alguns e olhar outros com interesse e atenção, para que assim eles possam ganhar sentido.

Essa capacidade de sustentar a atenção é a ferramenta cognitiva mais básica dos seres humanos, aquela que irá ajudar a construir todos os outros aprendizados. De forma diferente de um estrondo, que provoca uma resposta por reflexo, os estímulos mais fracos dependem da atenção direcionada e sustentada, o que, por sua vez, depende do interesse da criança. Esse interesse é totalmente vinculado aos momentos de interação com pessoas em quem confia.

Por isso, ao interagirmos com a criança de uma forma rica e, literalmente, estimulante, ensinamos mais que uma informação: ajudamos a formar habilidades cognitivas, emocionais e sociais que são a base de qualquer aprendizagem. Entre elas estão a atenção, a memória, a linguagem, a imitação, a interpretação das intenções alheias, o controle do impulso e a autorregulação.

Todas essas competências e muitas outras são trabalhadas de forma intensa e integrada pela educação infantil e são desenvolvidas em interações tanto com professores quanto com colegas, de uma forma complementar. Enquanto as atividades presenciais permanecem interrompidas, é muito importante que o enorme potencial das crianças para o desenvolvimento de determinadas habilidades, de acordo com cada fase, seja bem aproveitado.

Para que possamos melhorar a qualidade das interações com as crianças pequenas, pesquisadores da Universidade de Harvard formataram em cinco passos as respostas que podemos oferecer aos interesses que partem delas. Assim, nesta importante tarefa de formação de um cérebro saudável, devemos não apenas apresentar os estímulos, como ajudá-las a sustentar a atenção quando mostram curiosidade. Isso pode ser feito em casa ou qualquer ambiente, em diversas oportunidades ao longo do dia, sem a necessidade de nenhuma tecnologia ou material especial. Os passos são:

1. Compartilhe a atenção:

Fique atento aos sinais de que a criança está interessada em um determinado objeto, animal, som, textura ou outro tipo de estímulo. Esses sinais variam conforme a idade: um bebê vai olhar mais fixamente a um local e mexer pernas e braços, enquanto uma criança maior, mas que ainda não fala, pode pegar no objeto, olhar para ele e para você, mostrar alguma expressão de entusiasmo. Então volte sua própria atenção àquilo também. Esse alinhamento de atenção é o mais importante movimento das interações sociais e da aprendizagem. Aponte, pegue, sorria, converse.

2. Apoie e encoraje:

Quando a criança mostrar interesse em algo, mostre por meio de expressões, gestos e palavras, que você aprova essa atitude. Isso irá estimular a curiosidade, que é fundamental para a aprendizagem. Para que ela se sinta encorajada, é importante que você se agache ao nível dela e compartilhe de sua perspectiva ao explorarem o objeto e brincarem juntos.

3. Nomeie:

Aproveite o interesse da criança para dar nome às coisas. Repita o nome diversas vezes enquanto interagem e ajude-a a relacionar aquilo a outras palavras que ela já conhece. Nomeie coisas, sentimentos e ações. A linguagem é essencial para a categorização das informações, que vão sendo organizadas mentalmente pela criança em uma espécie de mapa – em que latido é associado a cachorro e cachorro a animais e animais a cuidados, por exemplo. A essas combinações ela vai acomodar todos os novos conhecimentos, dos concretos aos abstratos.

4. Espere e reveze as ações:

Quando a criança mostra interesse por alguma tarefa, mostre como se faz alguma coisa e espere que ela faça, mesmo que leve tempo e que ela se atrapalhe. Espere, deixe que erre e tente várias vezes antes de mostrar novamente como se faz ou fazer por ela. Lembre-se de que é necessário paciência para encorajar a autonomia.

5. Pratique o início e o fim

Enquanto a criança está desenvolvendo a capacidade de sustentar a atenção e, ao mesmo tempo, descobrindo o mundo, é normal que ela queira trocar muitas vezes de atividade ou brincadeira. Compartilhar com ela a atenção a um estímulo é uma forma de ensiná-la a manter-se focada, bem como sinalizar a ela uma ação terminou e outra começou. Isso ocorre quando você mostra que está atento e engajado na atividade com ela e comunicando-se com palavras, gestos e atitudes: “Terminou de brincar com o trem? Então vamos guardá-lo”.

Se você quiser explorar mais esse assunto, o Centro da Criança em Desenvolvimento da Universidade de Harvard preparou uma série de vídeos que estão disponíveis em português, por meio deste link

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