Como as crianças guardam o que aprendem?
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25 junho, 2022

Como as crianças guardam o que aprendem?

Ensinar é ajudar a compreender e também ajudar a não esquecer. É função dos educadores não apenas construir conhecimento, mas também possibilitar sua consolidação. Para isso, é essencial entender como funciona a memória.

A neurociência tem apontado, nos últimos anos, falhas comuns no sistema educacional tradicional. Embora essas falhas não surpreendam os profissionais atentos às práticas mais eficazes, elas oferecem uma base científica sólida para que a educação reconheça a necessidade de modernizar seus métodos e se torne mais receptiva às mudanças.

Uma das conquistas mais evidentes – e já adotada por muitas escolas – é o envolvimento ativo das crianças na aprendizagem: ouvindo menos e fazendo mais. Entretanto, o reconhecimento da importância do processo de consolidação do conhecimento avança mais lentamente. O sistema educacional frequentemente superestima nossa capacidade de memorização de fatos e informações, sem considerar como esse processo ocorre e como pode ser otimizado.


O que considerar ao planejar as aulas?

A seguir, apresentamos alguns pontos essenciais sobre memória que devem ser levados em conta no planejamento educacional:

A memória não é como um filme.
O cérebro não foi projetado para armazenar informações ipsis litteris. Como nosso sistema de armazenamento não é infinito, o cérebro utiliza uma estratégia inteligente de gerenciamento de "espaço".

Lembranças são reconstituídas.
O cérebro reconstitui memórias cada vez que elas são acessadas, ajustando-as de acordo com o contexto em que são evocadas.

Guardamos conceitos, não informações brutas.
As informações são armazenadas na forma de conceitos, que se somam a uma rede flexível de dados em constante aprimoramento.

Associações são fundamentais.
O novo conhecimento precisa ser associado a informações já existentes para que se forme uma memória sólida.

Informações visualizáveis são mais facilmente retidas.
Imagens mentais nítidas e conscientes aumentam significativamente a probabilidade de compreensão e retenção.

Emoções sinalizam importância.
O cérebro guarda o que considera importante, e as emoções são o principal critério de seleção.

O que não é usado é descartado.
Informações que não são utilizadas de forma recorrente são apagadas, incluindo conteúdos acadêmicos complexos que não se relacionam com o cotidiano.

O que usamos frequentemente vira automático.
Parte do conhecimento se consolida a ponto de ser usado "sem pensar", liberando energia mental para aprender novas habilidades.


O cérebro: um construtor de sentido, não de memórias brutas

Nosso cérebro foi projetado para dar sentido às informações, não apenas para memorizá-las. Por isso, o objetivo da educação deve ser promover uma compreensão profunda do conteúdo. Não podemos, entretanto, tratar a memória como um recurso separado do processo de construção de sentido.

Quanto mais conhecimentos consolidados possuímos, mais facilmente compreendemos e memorizamos novas informações. Isso ocorre porque um repertório rico de conhecimento cria mais oportunidades de associações – um elemento central tanto para a aprendizagem quanto para a memória.


A responsabilidade da escola

Ensinar é tanto uma questão de ajudar a compreender quanto de ajudar a não esquecer. A escola deve ir além de construir conhecimento; deve possibilitar sua consolidação. Esse trabalho começa pela compreensão do processo de memorização, que envolve fatores como:

  • Motivação;
  • Repetição;
  • Retomada periódica do conteúdo;
  • Trabalho da compreensão por meio do ensino de conceitos.

Quando combinamos essas práticas com um entendimento claro de como o cérebro funciona, preparamos as crianças não apenas para aprender, mas para reter e aplicar o que aprenderam em suas vidas.