3 maio, 2019
Por que entramos na era do criador
Segundo o economista Paulo Saffo, citado pela revista americana Forbes como um dos analistas de tendências mais respeitados da atualidade, a economia se divide em ciclos que remodelam drasticamente nosso comportamento e a forma como a sociedade se organiza. Com nossa fantástica capacidade de adaptação, aderimos às mudanças, reorganizamos nossas expectativas e, sem nos dar conta, colaboramos para a construção de uma nova fase da nossa história, batizada pelo economista como era do criador.
Para esclarecer como chegamos aqui e o que isso significa, ele faz uma breve revisão de momentos determinantes da economia a partir do início do século 20, quando as cidades começaram a crescer rapidamente com a industrialização, o que gerou uma demanda crescente por novos produtos. Para atender a essa classe emergente, a indústria voltou seus esforços para a eficiência produtiva, ou seja, para a necessidade de produzir mais em menos tempo e com custo menor.
O processo de fabricação precisava ser otimizado ao máximo e os trabalhadores tinham funções restritas, repetitivas e automáticas para não perderem tempo. Trabalhavam contra o relógio, em sistemas rigidamente organizados. Os primeiros automóveis, por exemplo, eram todos pretos. Não porque estava na moda ou porque outras opções eram inviáveis, mas pelo fato de a tinta preta secar mais rapidamente, o que garantia maior produtividade.
Superada a escassez de produtos, o mercado tratou de aumentar nas pessoas o desejo pelo consumo. Foi então que, na década de 50, a publicidade ganhou força, com estratégias criativas que convenciam as pessoas de que elas precisavam de mais e mais produtos. A criatividade passou a ser uma peça importante para o aumento do consumo, mas sua demanda era restrita a alguns segmentos, como comunicação e artes.
E o apelo criativo – juntamente com incentivos econômicos – funcionou tão bem que o consumo excessivo logo revelou seu lado negativo, com o uso irresponsável do crédito e o surgimento de problemas éticos e ambientais. Na sequência, o mercado se deparou com novos desafios: agora precisava se adaptar a um consumidor já mais consciente e comedido, em um mundo onde a informação passou a ser excessiva e, por conta desse excesso, a atenção tornou-se escassa. A solução foi transformar o consumo em experiências.
Como a criatividade e o engajamento são antídotos para a desatenção, para atrair uma geração mergulhada em distrações passou a ser necessário engajar as pessoas, envolvê-las em uma rede de criação e de ideias que conecta tudo e todos. Mais que alvo final de produtos e ideias que são impostos pelo mercado, os consumidores passaram a participar diretamente da construção das novidades. E assim surgiram Uber, Wikipedia, Airbnb e projetos culturais e científicos viabilizados por crowdfunding, financiados pelo público – e não mais por entidades distantes que decidem o que iremos consumir.
O status, segundo Saffo, deixou de ser representado pelo preço ou pela quantidade de coisas que possuímos e passou a ser representado pelo novo – o novo construído em conjunto, como experiência social e cultural.
Essa rede de conexões e ideias, em constante movimento e aprimoramento, possibilita que a criatividade corra solta e se destaque como a marca do nosso tempo. Assim, a era do consumidor criador passa a ser também a da criatividade. Quanto mais informações estão acessíveis, mais são geradas possibilidades de combinações diferentes de todo esse conhecimento. Neste novo ciclo econômico, a criatividade é quase um pré-requisito para o sucesso nas interações sociais e profissionais.
Tanto é que essa habilidade nunca foi tão valorizada pelo mercado. O Fórum Econômico Mundial (O Futuro do Trabalho) apontou a criatividade como terceira habilidade mais necessária pela força de trabalho nos próximos anos, atrás da capacidade de resolução de problemas complexos e do pensamento crítico. De acordo com o documento, essa necessidade surge como consequência da abundância de novos produtos, tecnologias e formas de trabalhar.
O físico teórico e futurista Michio Kaku prevê que essa qualidade é uma espécie de atalho para o futuro, pois estamos nos distanciando do repetitivo e do previsível e voltando o interesse ao que escapa do senso comum. Os serviços mais valorizados são os que nos diferenciam com relação às máquinas – aqueles que dependem de pensamentos e atitudes flexíveis e de ações originais.
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