O ensino deve se adaptar à revolução da informação

Por Michele Müller

Pesquisas mostram que as categorias de empregos que mais crescem são centradas em dados e informações. Como as escolas devem preparar os estudantes para essa nova realidade?

 

Toda a biblioteca de Alexandria, ou seja, quase todo o conhecimento que a humanidade tinha registrado na antiguidade, caberia em um pendrive. A produção da informação, resultado de um processo lento de elaboração e propagação da escrita, foi crescendo sem pressa ao longo dos séculos – até recentemente.

Apenas nos últimos dois anos, foram produzidas 90% das informações registradas, de acordo com a Câmara de Comércio Americana (Chamber of Commerce Foundation). Elas passaram a compor um mostro que conhecemos como Big Data e que cresce de forma exponencial e irreprimível. Ficou maior que nós, em certo sentido: passou a invadir todos os espaços e horários e a nos controlar, mudando a forma como nos relacionamos e interagimos com o mundo.

Quem nasceu antes do corpo ganhar um novo membro – esse extensor de memória digital acoplado às mãos humanas – pode se gabar de ter presenciado a vida no período pré e pós revolução da informação e analisar as mudanças na forma como processamos tantas novidades. O livre acesso a uma quantidade de conhecimento cada vez mais difícil de gerenciar é o ponto de partida de onde se estendem, por um lado, caminhos repletos de descobertas, conexões e derrubada de barreiras e, por outro, alguns mais perigosos, cheios de distorções. Afinal, todo o excesso resulta em uma queda na qualidade – lógica que se aplica também a valores mais intangíveis, como o conhecimento.

Como qualquer mudança grande, rápida e drástica, essa revolução vem com consequências imprevistas, para as quais não nos preparamos – aprendemos a nos adaptar a elas na prática, com muitas tentativas e desastrosos erros. E a educação está nesta fase de adaptação, testando soluções para essas novas necessidades, que exigem uma reorganização urgente – e talvez, contínua – das prioridades.

Se antes o ensino era baseado no armazenamento de fatos, para que pudessem ser acessados caso fossem requeridos, hoje deve priorizar a seleção e interpretação das informações. Sem a capacidade de distinguir entre fatos e opiniões, entre correlação e causalidade, entre o impossível e o improvável (que se misturam e a se disfarçam cada vez melhor), o risco de escolhas infelizes, das individuais às coletivas, passa a ser muito alto.

Então vem a questão: o que tirar e o que acrescentar nos currículos para garantir que a educação sirva às novas formas como a sociedade passou a operar? O exercício do domínio sobre atenção, tão fragilizada pelo volume de estímulos e pela ansiedade que eles geram, é um ponto de partida, uma vez que sem ela não existe aprendizagem alguma. Habilidades sociais e criativas, mais valorizadas que nunca, também devem encontrar seu espaço – e não apenas em salas de artes ou no pátio da escola, mas na forma como o conhecimento, de forma geral, é absorvido e utilizado pelos alunos.

E a matemática? Para alguns especialistas, como o economista americano Steven Levitt, que sugere mudanças no currículo a partir de uma série de pesquisas, a disciplina apresenta uma das maiores disparidades entre aquilo o que se aprende e aquilo o que se usa, à medida em que as equações ficam mais complexas e abstratas.

Nos níveis mais avançados do fundamental, matemática passa a ser algo totalmente abstrato e sem sentido. Estudantes passam muito tempo trabalhando em equações que hoje são automaticamente resolvidas por máquinas ao invés de aprender o que realmente precisam. Ou, melhor, o que o mundo, neste momento, precisa que eles saibam: uma pesquisa realizada pelo LinkedIn (2018 Jobs Report) nos Estados Unidos aponta que sete das dez categorias de empregos que mais crescem são centradas em dados e informações.

Com base nesse cenário e partindo de suas próprias pesquisas, ele elaborou um projeto, em parceria com o Centro de Inovação Radical para Mudanças Sociais da Universidade de Chicago (RISC), de implantação de análise de dados nos currículos americanos de matemática, em níveis que equivalem ao nosso ensino médio. A proposta sugere uma série de iniciativas voltadas à busca de soluções para problemas atuais – do aquecimento global à redução da violência – desenvolvidas pelos estudantes com base na interpretação, análise e geração de dados.

Matemática pode ser palpável e aplicável. Para isso deve ser ensinada de forma integrada a outros conhecimentos, com o objetivo de construir o longo caminho que leva ao pensamento crítico – esse conjunto de habilidades que nos diferencia e nos dá domínio sobre as máquinas, nos capacita a selecionar e manipular informações e motiva a encontrar questões ainda não formuladas e soluções ainda não concebidas.

 

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