Comunicação energética e inteligência intuitiva

Por Michele Müller

Aquilo o que muitos identificam como uma sensação de estar em um ambiente cercado de “boas energias” ou, ao contrário, “carregado” de energia negativa, deixou o campo místico dos eventos inexplicáveis e se tornou algo mensurável com o desenvolvimento de medidores biomagnéticos mais sensíveis.

O coração é nossa mais poderosa fonte de energia eletromagnética. O campo magnético que ele produz é cem vezes mais forte que o gerado pelo cérebro e pode ser detectado por magnetômetros a metros de distância. Ou seja, esse campo envolve e afeta todas as células do corpo e se expande para o ambiente externo, enviando informações sobre o nosso estado emocional.

Esse conhecimento permite o entendimento da comunicação interpessoal a partir de uma nova perspectiva. Já sabemos que a linguagem verbal representa apenas uma parte daquilo o que expressamos – geralmente a que mais temos controle consciente. Somos dotados de uma sensibilidade notável para decodificar sinais como expressões faciais, gestos e tom de voz e, em um nível subconsciente, interpretá-los como confiáveis e familiares ou estranhos e ameaçadores. Agora podemos envolver a comunicação em um novo campo, que opera longe da consciência, mas de forma impactante: o energético, ou eletromagnético.

Esse fator pode ser decisivo na construção de vínculos. Assim como as outras vias sutis de conexão, pode ser uma poderosa e terapêutica forma de interação, que resulta de uma sincronização energética entre os seres. Para testar a nossa capacidade de detectar as informações emocionais enviadas pelo campo magnético, pesquisadores do instituto Heart Math fizeram uma série de experimentos com eletrocardiograma (ECG) e eletroencefalograma (EEG) com a finalidade de detectar sinais simultâneos e entre as ondas cerebrais de uma pessoa e ondas eletrocardiográficas de outra.

Concluíram que o “sistema nervoso age como uma antena que sintoniza e responde ao campo magnético emitido por outros indivíduos”. Eles acreditam que essa comunicação energética pode ser aprimorada e é determinante na habilidade de perceber a situação emocional do outro – um recurso que é favorecido pelo estado de coerência cardíaca.

O termo, utilizado por investigadores do campo da neurocardiologia, indica a harmonia e estabilidade do padrão de ritmo do coração, estado que pode ser autoinduzido a partir de técnicas de respiração e direcionamento da atenção aos batimentos cardíacos. Mais que promover o próprio bem-estar, o estado de maior coerência cardíaca (e entre os múltiplos sistemas oscilatórios) afeta diretamente aqueles que nos cercam.

Peter Paul Dugan, em Poetical Works of Edgar Allan Poe

Mais raro que a sincronização cérebro-coração entre duas pessoas é o padrão coordenado de ritmos cardíacos – condicionado a circunstâncias mais específicas, como nas interações de grande intimidade e proximidade entre aqueles que exercitam técnicas de coerência cardíaca ou entre casais em momento estável do relacionamento, mas durante o sono. Diversos experimentos também constataram sincronização entre os ritmos cardíacos de pessoas e seus animais de estimação.

A habilidade de detectar campos energéticos emitidos por pessoas, animais e pela terra (atividade geomagnética) pode ser considerada um produto do que chamamos de intuição. Esse tipo de inteligência também usualmente se manifesta a partir do conhecimento implícito – aquele que está alojado na memória, mas não alcançou a consciência.

Nossa tendência de formular julgamentos e análises na hora de tomar grandes ou difíceis decisões pode ser um obstáculo ao acesso à sabedoria intuitiva. Um aumento da coerência cardíaca, por meio de técnicas baseadas no direcionamento da atenção aos ritmos fisiológicos, facilita o alinhamento com a intuição. Essa conscientização dos sinais sutis pode nos apontar uma direção quando estamos vivenciando situações incertas, geradoras de grande ansiedade.

A intuição nos permite entrar em contato com sentimentos e percepções geralmente escondidos sob o produto desordenado do pensamento. Ao possibilitar o acesso a esses processos subconscientes, entrega um cenário mais rico e confiável nas tomadas de decisões. Oferece modos mais criativos e menos automáticos de reagir às situações e torna as interações sociais mais gratificantes.

Hoje a neurociência reconhece o cérebro como parte de um sistema e, ao invés de contrariar, está conseguindo compreender a sabedoria por trás da antiga e universal relação entre o coração e a inteligência intuitiva. E a simbologia que usamos para representar o amor e o afeto faz mais sentido que nunca.

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